Dada a relevância do setor da Construção Civil para o progresso do nosso país, as discussões sobre como aprimorar o desempenho das incorporadoras sempre estão em destaque, sob diversas perspectivas.

Atuando na CAIXA e à frente da GSRISK desde 2018, acompanho de perto debates sobre assuntos cruciais, como: o orçamento da União para programas habitacionais; questões relacionadas ao FGTS, ao SBPE e outras opções de financiamento; o suporte a empreendimentos por bancos públicos e privados; questões jurídicas; análises de mercado e tendências; além das inovações técnicas e métodos de construção e gerenciamento apresentados em eventos, encontros e feiras promovidos por associações e sindicatos relevantes.

De acordo com a última PAIC – Pesquisa Anual da Indústria da Construção realizada pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2022, havia no Brasil 28.853 empresas incorporadoras e construtoras, entre mais de 174 mil atuando na indústria da construção civil, um número que, acredito, tenha aumentado nos últimos três anos.

Dentro desse universo, encontram-se as incorporadoras e construtoras de grande porte, com estruturas robustas, programas de governança e compliance estabelecidos, além das de capital aberto. Apesar do volume de receitas e unidades construídas, elas formam um grupo seleto entre as milhares de empresas espalhadas pelo país.

E para todas essas outras, apesar da qualidade dos processos de construção e de uma boa força de vendas, a Contabilidade só recebe atenção no momento da busca por recursos de bancos e investidores, especialmente quando há uma negativa de crédito.

Com base em minha experiência, a contratação de um escritório de Contabilidade tende a focar em questões fiscais e, por falta de conhecimento, não há preocupação com a especialização do profissional no segmento de incorporação imobiliária. É como agendar uma cirurgia cardíaca com um clínico geral.

Os desafios que surgem da contratação de escritórios generalistas, com foco apenas no fiscal e sem interesse em se especializar no atendimento às incorporadoras, trazem prejuízos significativos. Esse é um problema recorrente observado pela GSRISK.

Ao realizarmos diagnósticos das construtoras e incorporadoras, nos deparamos com questões, algumas delas básicas, que causam grande preocupação, como:

  • Escrita contábil efetuada pelo regime de caixa, em desacordo com as normas contábeis;
  • Aplicação da norma fiscal sobre a norma legal;
  • Desconhecimento do reconhecimento de receitas conforme o POC (porcentage of completion);
  • Não aplicação do CPC 47 e sua interpretação pelo OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP/n.º 02/2018;
  • Registro incorreto dos saldos de CLIENTES e ADIANTAMENTO DE CLIENTES;
  • Falta de consolidação ou consolidação feita em desacordo com a norma técnica;
  • Classificação errada de terrenos entre ESTOQUES, INVESTIMENTOS ou IMOBILIZADO;
  • Contas a pagar com todas as parcelas registradas apenas curto prazo.

E esses são apenas os problemas mais comuns!

Dependendo da gravidade da situação, nossa recomendação é a substituição da Contabilidade por uma especializada no setor, o que, na maioria das vezes, resulta em benefícios significativos para as empresas. Além de obter documentos contábeis que refletem a realidade da empresa e podem ser utilizados como ferramentas de gestão financeira, elas passam a ter resultados mais consistentes em suas avaliações, tanto junto aos bancos quanto aos investidores.

Meu objetivo com esta publicação é, de alguma forma, estimular a discussão sobre o tema, que poderia ser um foco de orientação e debate nas reuniões regionais e nacionais das incorporadoras.

Acredito que nós, contadores do setor, podemos cada vez mais discutir os assuntos relevantes da área e mostrar, por meio de exemplos e casos, como uma contabilidade especializada pode impactar positivamente no fortalecimento de cada incorporadora e construtora do Brasil.